O Som do Trovão – Parte 3:<br/>Com unhas e dentes O Som do Trovão – Parte 3:<br/>Com unhas e dentes
O Som do Trovão – Parte 3:
Com unhas e dentes

Com suas pernas latejando furiosamente, seu coração batendo como um tambor e suas tranças se movimentando sem parar, a Dra. Shaed Priyani corria para salvar a própria vida.

Ela ziguezagueou aqui e ali, dando o seu melhor para esquivar dos fragmentos protuberantes de fulgurito e dos ossos espalhados pela área antes de juntar coragem suficiente para olhar por cima do ombro. Com uma mandíbula estalando ao som de faíscas e raios, o Behemoth – que, sem sombra de dúvida, era algum tipo estranho e gigantesco de Drask – estava se preparando para expelir uma grande quantidade de aether elétrico na direção da doutora. Os músculos dela tensionaram quando sentiu a carga elétrica crescente logo atrás.

Priyani deveria ter ouvido Kat e ficado onde estava. Agora, ela estava prestes a ser vaporizada graças à sua curiosidade. “Um fim apropriado para uma especialista em Behemoths”, pensou ela. E, mais uma vez, Priyani quis que acreditasse na vida após a morte. Uma mente menos científica talvez achasse algum conforto na ideia de reencontrar sua esposa no além.

O som de asas de planador chegou aos seus ouvidos momentos antes dela sentir algo bem mais sólido colidindo com a lateral de seu corpo. E com bastante força. Após ser arremessada ao ar, Priyani rolou sobre montes de areia e pedras enquanto um raio elétrico atingia exatamente o local onde ela estava há poucos segundos.

Quando seu corpo parou de rolar, a doutora olhou aliviada para quem a tinha salvado. Kat não conseguia manter seu olhar sério de guerreira, esboçando um sorriso de canto enquanto oferecia uma mão para ajudar a doutora a levantar.

Porém, com o cabelo eriçado pela estática no ar, o rosto de Kat logo deu lugar à frustração. Priyani não conseguiu se aguentar, soltando uma risada cansada enquanto recuperava o fôlego. “Que…”, começou ela antes de tossir. “… cabelo bonito, Slayer.” O sorriso voltou ao rosto de Kat por um breve momento. “Dá para calar a boca e correr?”

Logo após a Mestre Slayer terminar a frase, uma gigantesca cauda espinhosa a acertou, jogando-a para o outro lado da área. Priyani soltou um suspiro de alívio ao ver que Kat transformou sua aterrissagem forçada em um salto mortal, caindo de pé em meio a um rastro de poeira.

O Drask era bem maior do que qualquer um que Priyani já havia visto. Protuberâncias afiadas adornavam suas barbatanas e brilhavam com energia aethérica de tom azul-cobalto. Por entre suas inúmeras presas, um rugido vocifero deixou a garganta da fera.

“Isso devia estar extinto!”, gritou a doutora.

“Já vou dar um jeito nisso”, respondeu Kat. “Agora CORRE!”

Era possível ouvir o canto da lâmina da Mestra Slayer enquanto ela se aquecia com alguns golpes. Priyani sabia que fazia anos desde a última vez que o aço daquela arma havia entrado em contato regular com Behemoths. Entretanto, a doutora conhecia Kat Sorrel há tempo suficiente para saber que ela nunca desistiria de uma luta quando vidas estivessem em jogo.

“Só tome cuidado, por favor”, pediu ela, surpreendendo a si mesma com a própria sinceridade.

“Vou distrair ele, doutora. Vá para a zona de pouso, mais ou menos dois cliques na direção sul.” Ao olhar por cima do ombro em direção à cientista, a Mestre Slayer arregalou os olhos ao notar que Priyani continuava parada no mesmo lugar. “Sai logo daqui, Shaed! VAI!”

Ouvir o próprio nome tirou Shaed do torpor que tomou conta de sua cabeça, e finalmente a doutora partiu como a amiga lhe pedira, olhando para trás com frequência de tanta preocupação.

Enquanto Kat chamava a atenção do Drask, a criatura desferiu um golpe nela com suas pernas dianteiras musculosas e cheias de garras. A Slayer desviou com facilidade, erguendo sua lâmina e correndo pela lateral do corpo escamoso da fera, cortando-o. Uma cortina de aether foi expelida da ferida recém-aberta, banhando Kat e trazendo um sorriso de volta aos seus lábios.

Enquanto o Drask urrava de dor, ela aproveitou a oportunidade, desferindo outro corte na mandíbula da criatura. Cambaleando para trás graças ao corte, o Drask se contorceu e se debateu, cego pela mistura de fúria e aether que o envolvia. Com a fera distraída pelo acesso de raiva, Kat aproveitou para escapar.

Não demorou muito até que ela alcançasse a doutora. Empurrando gentilmente a especialista em Behemoths para trás de um afloramento de fulguritos retorcidos, Kat levou um de seus dedos até os lábios. A mensagem era clara: quieta, doutora.

“É ele? É essa a criatura?”, sussurrou Kat.

“Acho que sim, mas esse não pode ser o único da espécie. Precisamos alertar os Slayers.”

“Com certeza”, concordou Kat com um suspiro cansado. A carona de ambas já estava descendo na zona de pouso próxima ao local, estendendo sua rampa para que elas embarcassem. Kat agarrou a mão de Priyani e, sem mais uma palavra, as duas pularam a bordo, caindo uma em cima da outra no convés.

Se a Mestre Slayer chegou a notar o quanto a doutora ficou corada enquanto ambas se desvencilhavam, ela preferiu não comentar. Porém, enquanto permaneciam deitadas lado a lado tentando recobrar o fôlego em meio a surtos espontâneos de risada, Priyani sentiu algo semelhante a esperança pela primeira vez em muito tempo.

“Acho que estou ficando velha demais para acompanhar você nessas expedições”, disse Kat com um sorriso genuíno nos lábios.